A escritora patense, doutora em literatura e autora premiada, Maria Esther Maciel faz parte do time de autores e intelectuais responsáveis pela edição e publicação da mais recente obra literária de Machado de Assis. Ele é considerado um dos maiores escritores brasileiros de todos os tempos. A obra "Na Arca: Machado de Assis e os animais" é uma coletânea inédita que reúne contos e crônicas de Machado de Assis, organizada por Fabiane Secches e Maria Esther Maciel.
No dia 24 de julho, a obra literária estará exposta nas principais livrarias brasileiras. O livro explora a forma como o autor aborda os animais, indo além de meros coadjuvantes e revelando uma complexidade comovente em sua representação. O autor apresenta uma visão singular sobre os animais, não apenas como elementos da natureza, mas como personagens com suas próprias individualidades e interações com o mundo humano. Machado de Assis, com seu olhar atento e perspicaz, utiliza os animais para tecer críticas sociais, ironizar a pretensa superioridade humana e explorar temas como a alma, a personalidade e a relação entre diferentes espécies.
A coletânea inclui textos em que aparecem cães, gatos, ratos, burros, cavalos, galos, corvos, canários, borboletas, cigarras, aranhas, formigas, moscas, lagartos, lagartixas e pombas, entre outros. A presença desses animais, em suas diversas formas e tamanhos, enriquece a narrativa machadiana e demonstra a capacidade do autor de extrair profundidade e significado de cada espécie.
O livro, publicado pela Fósforo Editora, é uma oportunidade de mergulhar no universo animal da obra de Machado de Assis e descobrir a riqueza e a originalidade de sua perspectiva sobre a vida e suas múltiplas formas. O escritor praticamos sempre encontrou no mundo animal a inspiração para seus contos e crônicas. Alguns desses textos, publicados num intervalo de quase quatro décadas, estão reunidos de forma inédita em “Na arca: Machado de Assis e os animais”, edição especial organizada por Fabiane Secches e Maria Esther Maciel, ilustrada por Gê Viana e publicada pela editora Fósforo.
Nesta coletânea, o cão, o burro, o gato, o rato, o canário e diversos outros bichos, que chamavam a atenção do escritor naquele Rio de Janeiro da segunda metade do século XIX, são postos em cena como personagens principais e sob enfoques inusitados. Com muito de presciência, Machado de Assis “abriu os caminhos para que fosse delineada […] toda uma linhagem de escritores atentos não apenas à importância das vidas não humanas e à complexidade das conexões entre homens e animais, como também à necessidade de se reinventar a própria noção de humanidade”, observa Maria Esther Maciel no posfácio do livro.
Arguto observador de sua época, que experimentava o avanço das ciências, o triunfo do racionalismo antropocêntrico e a revolução darwinista, o escritor dedicou muitas páginas ao registro da situação dos animais na sociedade dos homens. Assim, por exemplo, fez o elogio do vegetarianismo, registrou com frequência a crueldade das vivissecções realizadas nos laboratórios científicos, indignou-se com a exploração da força animal no trabalho e manifestou simpatia pelas sociedades protetoras de animais.
Sem função edificante, como nas fábulas tradicionais, os bichos de Machado se expressam como se pudessem empregar a linguagem verbal e os saberes científicos da época. Assim é, por exemplo, no conto “Ideias de canário”, em que o pássaro questiona o olhar humano sobre a natureza, e na crônica “Conversa de burros”, em que uma dupla de puxadores de bonde trava um diálogo filosófico sobre a exploração imposta pelos homens. Os cães também marcam presença em outros textos da coletânea, como “Miss Dollar” e “Um cão de lata ao rabo”, assim como os felinos, que aparecem também na simpática carta escrita por Machado de Assis colocando-se na pele de um gatinho preto.
Como resumiu Maria Esther Maciel: “Na arca de papel machadiana, os bichos ― com seus saberes, sentimentos, pensamentos, agruras e indignações ― circulam soltos pelas páginas, desafiando a própria ideia de confinamento e desestabilizando a suposta superioridade do homo sapiens em relação a criaturas de outras espécies”.
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